Entrevista: Rodrigo Fino - designer argentino
OP - Os jornais de 10 anos atrás eram completamente diferentes dos de hoje e daqui a quatro, cinco anos mudarão ainda mais. Quais foram os momentos que marcaram a transformação visual nos jornais impressos?
Rodrigo - A revolução dos jornais começa com o aparecimento do Macintosh, em 1984, e a possibilidade de auto-edição, você poder escrever e reescrever o texto em seguida. Aí mudou totalmente a forma de se fazer jornal. Foi uma grande mudança no mundo das empresas de comunicação. Depois, o segundo momento importante aconteceu entre 1991 e 1992, com a Guerra do Golfo, quando acontece o desenvolvimento da infografia. Isso deu muitas opções aos jornais. Você (o impresso) não tinha imagens da guerra, então tinha que mostrar com desenhos como eram os combates, o que acontecia. Na Argentina, também teve papel importante a Guerra das Malvinas, em 1982, porque a infografia teve que ser explorada a partir deste momento.
OP - Era uma forma de o jornal se diferenciar da cobertura da TV e do rádio.
Rodrigo - Exato. Justamente na década de 1990, vira moda a preocupação com a questão visual, muitos jornais resolvem fazer seu redesenho. A TV e o rádio tinham a seu favor a instantaneidade. Cabia ao jornal aprofundar o fato. E nada melhor do que ilustrar como ele aconteceu. Você tinha que ambientar o eleitor. O terceiro momento da revolução do impresso vem com a Internet, a partir da metade da década de 1990, com a aparição da multimídia. As notícias passam a chegar a nós pelo computador, por e-mail, por celular. Foi um choque cultural nos jornais e tudo isso junto fez com que as empresas se obrigassem a mudar. Mas a velocidade de edição dos jornais só foi possível por causa da chegada do computador.
OP - A infografia surge como uma possibilidade de oferecer uma informação que somente o jornal impresso podia ter. Com as possibilidades que temos hoje com a Internet, ela é superior ao que era feito antes ou ainda é preciso avançar?
Rodrigo - Quando a infografia atinge seu melhor momento de qualidade, começa uma mania louca de se desenhar qualquer coisa: como é um gravador por dentro, como cai a chuva... Você olhava para os jornais e tudo era infografia. Não havia pertinência. Uma foto era trocada por infografia. Agora, a infografia virou um gêneno jornalístico, usado na medida certa. Além disso, na Internet, ela ganhou possibilidades incríveis com a animação.
OP - Entre uma página com infografia ruim e bom texto e uma com boa infografia e texto mediano, qual desperta maior atenção do leitor?
Rodrigo - O leitor ainda tem paciência para ler textos longos. Lógico que um bom desenho conquista a atenção do leitor, mas o mais importante é contar uma boa história, que explore o fator humano. É só ver o exemplo de um título: "R$ 5 milhões será o prejuízo do Ceará com inundações provocadas pelas chuvas". Qual de nós já viu um dia R$ 5 milhões? É muito dinheiro! Mas, se você titular "Cinco mil pessoas afetadas com inundações provocadas pelas chuvas", a possibilidade de o leitor se interessar pela matéria é bem maior. Para pensar no conteúdo, tem que pensar no fator humano da informação, tem que tocar as pessoas. E, se unir um bom texto a uma boa infografia, com certeza ele vai ler da primeira linha à última.
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