6.8.08

1000 Palavras: Um manifesto pela Sustentabilidade em Design


By Allan Chochinov

Eu não gosto da palavra manifesto. É cheio de dogma e regra – duas coisas que instintivamente rejeito. Eu ate gosto do jeito como alinha as coisas, mas não gosto de linhas ou grupos. Então, um manifesto provavelmente não é pra mim. Uma outra coisa sobre manifestos é que aparentam (ou são escritos para aparentar) auto evidentes. Esse tipo de escrita a priori é fácil, já que você simplesmente mostra o que parece obviamente – ate redundantemente – verdade. Claro, esse é o perigo dos manifestos, mas também o que os faz tão legais de ler. E de escrever. Então vou escrever esse manifesto. Só não devo assinar.

De qualquer jeito, aqui estão. Exatamente 1000 palavras:


Hippocrático (Relativo a Hippócrates) antes de Socrático (Relativo a Sócrates)
”Primeiro não faça mal” é um bom começo pra todo mundo, mas é um bom começo especialmente para designers. Para um grupo de pessoas que se orgulha de “resolver problemas” e melhorar a vida das pessoas, com certeza fizemos nossa parte da conversa. Temos que lembra que design industrial é igual a produção em massa, e que cada movimento, cada decisão, cada curva que especificamos é multiplicada - as vezes aos milhares e frequentemente aos milhões. E que cada um desses cadas tem um preço. Achamos que estamos no negocio dos artefatos, mas não. Estamos no negocio das conseqüências.

Pare de fazer porcaria
E isso significa que temos que parar de fazer porcaria. É realmente simples assim. Estamos nos sufocando, afogando, envenenando com as coisas que produzimos, contaminando nosso ar, nossa água, nossa terra, nossa comida – e basicamente essas são as únicas coisas que nós temos que cuidar, antes que não haja ”nós” nessa frase. Entra nos nossos corpos, claro, e certamente nas nossas mentes também. E os designers estão alimentando cada vez mais esse ciclo, ajudando a tornar tudo e todos em consumistas ou consumíveis. E quando você pensa, vê que é meio grotesco. “Consumista” não é exatamente um palavrão, mas deveria ser.

Sistemas antes de artefatos
Antes de criar algo novo, deveríamos examinar como podemos usar o que já existe para melhores fins. Precisamos pensar sistemas antes de artefatos, serviços antes de produtos, adotando os princípios de Thackara use/não use em todos os passos. Então quando novos produtos forem necessários, serão óbvios e apropriados, aí então podemos conscientemente retirar combustíveis fósseis e começar a polimerizá-los. Design de produto deveria ser parte de um kit de ferramentas que temos para solucionar problemas e celebrar a vida. É um meio, não um fim.

Ensinar sustentabilidade cedo
O ensino de design está em uma encruzilhada, enquanto várias escolas entendem os potenciais, oportunidades e obrigações do design, outras continuam ensinando alunos a vender suas belas peças de lixo. Instituições que enfatizam sustentabilidade, responsabilidade social, adaptação cultural, etnografia e sistemas, estão mostrando o caminho. Mas em breve elas definirão o que design industrial significa. (um alivio para aqueles que estão constantemente tentando definir a disciplina hoje!) Isso não significa falta de percepção. Só significa um olho atento aos custos e benefícios.

Encaixa melhor que cola
Isso é retirado diretamente do Owner’s Manifesto (manifesto do dono), que indica como as pessoas que são donas de coisas e as pessoas que fazem as coisas estão em uma parceria. Mas é uma parceira que está rompida, já que quase todos os produtos que produzimos não podem ser abertos ou reparados, são feitos exatamente para serem descartadas devido a falha ou obsolência,e escondem seus esforços em um tipo de prisão de estado sólido. O resultado é uma população cada vez menos confiante em suas habilidades para qualquer coisa que não seja apertar um botão ou um mouse, claro. Mas também resulta em pessoas que fundamentalmente não entendem as engrenagens de seus produtos e ambientes produzidos, e, mais importante, não entendem o papel e o impacto que esses produtos e ambientes produzidos tem no mundo. Do mesmo jeito que não podemos esperar que as pessoas entendam os benefícios de um filtro de água quando não podem ver a sujeira lá dentro, não podemos esperar que pessoas simpatizem com produtos mais verdes se não podem entender as conseqüências de nenhum produto sequer.

Design para não permanência
Em sua tese máster, “The Paradox of Weakness: embracing vulnerability in product design”(“o paradoxo da fraqueza: abraçando a vulnerabilidade no design de produto”), meu aluno Roberto Blinn argumenta que somos a única espécie que cria para a permanência – pela longevidade – ao invés de por um ecossistema no qual tudo é reciclado, transformado em alguma outra coisa. Designers são cúmplices nessa super-engenharia de tudo que produzimos ( somos aterrorizados pelo medo de falhar), mas é obvio que nossos caminhos e meios são anti-éticos em relação a como nosso planeta fabrica, usa e recicla as coisas. Escolhemos materiais inorgânicos precisamente porque organismos biológicos não podem consumi-los, enquanto o mundo natural usa os mesmos tijolos várias e várias vezes. É realmente berço-a-berco ou berço-a-cova, o que me preocupa. -> ?

Balanceamento antes de talento
A proporção de uma solução necessita de um balanceamento com seu problema: não precisamos de uma super pá, a bateria, para apanhar coco de cachorro, e não precisamos de um carro que faça 17km por litro, bom, não precisamos de carro, ponto. Temos que começar balanceando nossa habilidade de ser esperto com nossa habilidade de ser inteligente. São duas coisas diferentes.

Medidas antes de magia
Medidas não entram no caminho de ser criativo. Quase tudo é medível, e só o exercício de tentar calcular impactos ecológicos e de esforço pode ser incrivelmente instrutivo. Então, no seu próximo projeto, se você determinou que pode ser impossível medir as conseqüências de um processo ou material em um design que você está concebendo, talvez não seja um bom material ou um bom processo para se começar. Tem cada vez mais e mais pessoas por aí trabalhando para ajudar a calcular essas coisas, falando nisso, basta ligar para uma delas.

Climas antes de primatas
Isso é a priori a verdade auto evidente. Se é que temos esperança de continuar aqui, precisamos cuidar do nosso lar. E nosso de ponto de vista antropocêntrico está literalmente nos matando. “Design serve as pessoas?” Bem, acho que temos problemas maiores agora.

Contexto antes de absolutamente tudo
Entender que todo design acontece dentro de um contexto é o primeiro (e único) ponto de partida para se tornar um bom designer. Você pode ser um designer ruim depois disso, claro, mas você não tem chance de ser bom se não considerar o contexto primeiro. É tudo: em gráficos, comunicação, interação, arquitetura, produto, serviço, o que você quiser – se não leva o contexto em conta, é porcaria. E você já prometeu não fazer mais isso.

Então, ai está o meu manifesto. Um pouco radical, talvez, mas 1000 palavras só podia dar nisso. O poder do design é uma coisa incrível. Vamos usá-lo sabiamente.

3 comentários:

D. disse...

Quem é LUZITZ?

Vai ficar sem nota!

Jan Jan - disse...

No meu ponto de vista, o designer sempre procura a renovação de um nova idéia, que não se iguale a um padrão que foi criado anteriormente, ele busca um produto que sirva como uma novidade que ao mesmo tempo desperte a atenção do cliente.
A sociedade está ficando cada vez mais consumista por conta de anúncios, propagandas persuasivas, as pessoas estão se tornando ainda mais vaidosas, só se preocupam com sua imagem, sua beleza exterior e por isso gastam ainda mais tempo em salões, em clinicas para lipos, utilizam produtos químicos que agravam o problema do meio ambiente.

D. disse...

Nathan Shedroff disse que o design é o PROBLEMA. Mas que não dá para fazer parte da solução se você também não for parte do problema.

Quem pode citar casos de design sustentável?

D. Eler

D. Eler